O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) afirmou, na ata de sua última reunião divulgada nesta terça-feira, que optou, neste momento, por manter a taxa neutra de juros em 4%, embora alguns membros tenham levantado a hipótese de elevação.
Segundo o documento, o BC avaliou cenários alternativos e identificou que os impactos de uma elevação da taxa neutra sobre suas projeções “crescem no tempo” e passam a ser mais relevantes a partir do segundo semestre de 2024.
“O Comitê avaliou diferentes hipóteses, parâmetros e cenários em sua discussão sobre as projeções de inflação. Nessa discussão, alguns membros levantaram a hipótese de incorporar alguma elevação da taxa neutra de juros, em direção ao movimento observado nas expectativas para prazos mais longos extraídas da pesquisa Focus”, detalhou a ata.
Para o crescimento global, o BC ressaltou que o cenário “se mostra um pouco menos desafiador” como reflexo da mudança na política de combate à covid-19 na China e do inverno mais ameno na Europa.
“Alguns membros enfatizaram também que os dados de atividade e mercado de trabalho seguem relativamente resilientes nos EUA. Na China, os ajustes nas restrições sanitárias deverão suscitar recuperação cíclica da demanda e diminuir os riscos de disrupções de oferta”, pontuou.
Por outro lado, o comitê avaliou que o crescimento de longo prazo da China deve seguir inferior ao observado no período pré-pandemia, “refletindo tanto os ajustes no setor imobiliário quanto a piora da demografia esperada para os próximos anos”.
“Na Europa, o inverno mais ameno também reduziu a probabilidade de cenários extremos no fornecimento energético. Nos EUA, dados de atividade têm apontado desaceleração, mas ainda em ambiente de mercado de trabalho bastante pressionado”, disse.
“Apesar desses desenvolvimentos de curto prazo, o comitê segue avaliando que o compromisso e a determinação dos bancos centrais em reduzir as pressões inflacionárias e ancorar as expectativas consolidam um cenário global de aperto de condições financeiras mais prolongado, com taxas de juros ao final do ciclo de aperto mantidas por um período suficientemente longo em patamares contracionistas, mantendo elevado o risco de uma desaceleração global mais pronunciada”, complementou.
Sobre o processo de desinflação global, especialmente em itens mais voláteis, o colegiado afirmou que “é desafiador e possivelmente ocorrerá de forma mais lenta do que usualmente observado”, na medida em que a inflação está disseminada no segmento de serviços. “Entretanto, alguns membros enfatizaram a desaceleração nos núcleos de inflação em diversos países”, disse.
O comitê observou também que iniciou o seu debate em reunião na semana passada “avaliando se a estratégia traçada anteriormente de juros estáveis seria suficiente para a convergência da inflação para suas metas”. Nessa análise, disse o colegiado, verificou os principais determinantes da trajetória de inflação e como eles se comportaram no período mais recente.
Na sua decisão, traz a ata, “o Copom optou pela manutenção da taxa de juros, reforçando a necessidade de avaliação, ao longo do tempo, dos impactos acumulados a serem observados do intenso e tempestivo ciclo de política monetária já empreendido”.
A decisão foi tomada diante dos dados divulgados, projeções e expectativas de inflação, balanço de riscos e defasagens dos efeitos da política monetária já em território significativamente contracionista.
O Copom, por outro lado, “reforçou que é necessário manter a vigilância, avaliando se a estratégia de manutenção da taxa básica de juros por um período mais prolongado do que no cenário de referência será capaz de assegurar a convergência da inflação”.
A ata do Copom diz ainda que o Banco Central (BC) reforça que irá perseverar até que se consolide não apenas o processo de desinflação como também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas, que têm mostrado deterioração em prazos mais longos desde a última reunião. “O Comitê enfatiza que não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”, voltou a dizer o Copom.
A ata detalha as discussões do Copom em reunião na semana passada, que manteve os juros básicos estáveis em 13,75% ao ano e indicou um período mais longo com a Selic em patamar elevado.