Tera transforma sucos e refrigerantes em fertilizantes e abre nova porta para negócios

Tera transforma sucos e refrigerantes em fertilizantes e abre nova porta para negócios
Tera transforma sucos e refrigerantes em fertilizantes e abre nova porta para negócios

Quem mora em grandes centros urbanos talvez não saiba que sucos e refrigerantes jogados pelo ralo poderiam se transformar em um material que pode ajudar na produção de alimentos.

A Tera Ambiental atua em compostagem industrial desde a virada de século. Compartilhando espaço com a Companhia de Saneamento de Jundiaí (CSJ), no interior de São Paulo, a empresa recebe resíduos de várias indústrias da cidade e da região para processar e transformar em fertilizantes.

No total, a planta de Jundiaí produz 30 mil toneladas de fertilizantes orgânicos por ano. Uma das principais indústrias parceiras que direcionam seus resíduos para tratamento pela Tera é a Coca-Cola Femsa. Inclusive com plantas muito próximas.

Mas a gigante de bebidas é uma das várias indústrias que pagam para ter seus resíduos tratados pela Tera. “São entre 100 e 120 caminhões por dia descarregando efluentes na nossa planta”, conta Lívia Baldo, diretora Comercial da Tera Ambiental.

No caso da Coca-Cola Femsa, estes resíduos são compostos por refrigerantes e sucos que ficam fora dos padrões de qualidade para engarrafamento, e que seriam descartados pela empresa.

Somente da Coca-Cola Femsa, a Tera coletou mais de 2,6 mil metros cúbicos de líquidos que formaram 177 toneladas de lodo, material que efetivamente é transformado em fertilizantes.

“Os caminhões deixam aqui os materiais para decantação. O líquido é tratado para ser devolvido ao Rio Jundiaí. O lodo, que na retirada ainda tem 2% de material sólido, é colocado em uma câmara de desidratação, e a partir daí, sai um material com 20% de sólidos”, explica Baldo.

Fernando Carvalho, responsável técnico pelos fertilizantes produzidos pela Tera Ambiental, ressalta que o trabalho da empresa é importante para todas as cidades que são atendidas pelo Rio Jundiaí.

“Esse material que as indústrias enviam para cá, se fosse despejado na rede pública, prejudicaria muito o fornecimento de água. Cada litro de suco jogado no esgoto tem impacto sobre 25 mil litros de água, aproximadamente”, explica.

As empresas pagam para a Tera tratar seus resíduos. A partir do primeiro processo de desidratação, o material é misturado com outros materiais orgânicos que começam a trabalhar para se chegar ao produto final.

Em um galpão de 30 mil metros quadrados, essa mistura passa por um processo de secagem natural e mistura por 60 dias. “A secagem é feita pelos microrganismos, que produzem calor ao se alimentarem dos resíduos orgânicos da mistura”, explica Baldo.

No centro de um montante de fertilizantes já finalizados, depois de passarem por uma espécie de peneira para retirar os restos sólidos, a temperatura chega aos 60 graus centígrados, conta Carvalho. “As bactérias continuam trabalhando e o fertilizante vai ficando mais seco”.

Parceria com a Orizon

Ao ser questionada sobre um possível aumento da produção de fertilizantes, a diretora Comercial da Tera Ambiental afirma que este não é um objetivo estratégico da companhia no momento.

Mesmo assim, a empresa enxergou uma oportunidade de ampliar em 50% sua capacidade de produção a partir do final de 2023.

A Tera fechou uma parceria com a Orizon, empresa de capital aberto que atua com tratamento de resíduos e que se tornou uma das “queridinhas” dos investidores nos últimos anos, acumulando valorização de 80% desde a abertura de capital, em 2021.

A Tera montou uma planta em Paulínia, cidade próxima a Campina e também a Jundiaí, no mesmo espaço onde a Orizon recebe e trata seus materiais. “Nós acabamos ficando com os resíduos que podem virar fertilizantes”, conta Lívia Baldo.

Essa nova unidade tem capacidade para produzir 15 mil toneladas de fertilizantes por ano, com processo similar ao instalado em Jundiaí.

“Nós fazemos venda direta desse material para produtores rurais e a demanda tem crescido basicamente pelo boca a boca”, afirma a diretora Comercial da Tera.

Fernando Carvalho afirma que a parte comercial desses fertilizantes deveria ser tratado de forma diferente no Brasil, copiando o que acontece em alguns países da Europa.

“Para mim, os produtores deveriam ter esse fertilizante sem custos. Quem deveria arcar com os custos desse produto é o agente poluidor ou potencialmente poluidor. Eles deveriam ser nossa fonte de receitas”, diz o engenheiro.

Baldo ressalta que os produtores já sabem que a utilização do fertilizante orgânico, juntamente com os minerais, aumentam a produtividade e melhoram a qualidade do solo no médio prazo.

O fertilizante da Tera foi inclusive testado pela Universidade de São Paulo (USP) em culturas como cana, tomate e até macadâmia, tendo como resultado maior resistência a pragas e maior qualidade do produto final.

“Mas em momentos de mais dificuldades, esse fertilizante que fabricamos é colocado numa lista de ‘gastos extras’, não é algo básico para a sobrevivência da produção”, explica a executiva.