Prevendo maré positiva, JBS quer recomprar US$ 500 milhões em “dívidas caras”

Prevendo maré positiva, JBS quer recomprar US$ 500 milhões em “dívidas caras”
Prevendo maré positiva, JBS quer recomprar US$ 500 milhões em “dívidas caras”

Do terceiro trimestre de 2023 pra cá, a JBS parece ter deixado para trás os dias de tempestade perfeita e prejuízos para navegar em meses mais tranquilos e com lucro.

Desde setembro, todos os balanços trimestrais da companhia mostram resultados no azul. Depois de acumular R$ 1,6 bilhão em prejuízos de janeiro a junho do ano passado, a empresa somou pouco mais de R$ 600 milhões positivos de julho a dezembro. No começo deste ano, mais um lucro, desta vez de R$ 1,6 bilhão.

Os resultados líquidos positivos sequentes abriram caminho para um movimento de desalavancagem do negócio, que ganhou mais um traço nesta semana.

Na noite da terça-feira, 11 de junho, a JBS comunicou ao mercado que pretende recomprar até US$ 500 milhões, algo em torno de R$ 2,7 bilhões, em dívidas já emitidas. A recompra será feita pela JBS USA Food Company, subsidiária estadunidense da empresa.

A empresa quer recomprar títulos com cupons de prazo até 10 anos. Na prática, pretende reduzir o estoque de dívidas com juros mais altos. Os detentores desses bonds têm até o dia 11 de julho para declarar seu interesse na oferta da JBS.

Os bonds possuem papéis que vencem entre 2029 e 2034, com taxas de juros entre 5,75% e 6,75% ao ano.

Ao final do primeiro trimestre deste ano, a dívida bruta da JBS estava em R$ 96,5 bilhões, ou US$ 19,3 bilhões. Como o caixa da empresa ao final de março estava em R$ 17,3 bilhões, a dívida líquida considerada pela JBS é de R$ 79,2 bilhões, ou US$ 15,8 bilhões. Desse total, 96% são dívidas de longo prazo e o restante, de curto prazo.

Gustavo Cruz, estrategista-chefe da RB Investimentos, ressalta que historicamente o setor de frigoríficos possui uma alta alavancagem financeira.

Quando se trata de grandes players do setor, como a própria JBS e concorrentes como Marfrig e Minerva, Cruz ressalta que elas suportam encargos financeiros mais onerosos.

“Notamos que a JBS encontra-se em uma posição mais favorável em comparação às suas concorrentes no momento atual, o que lhe possibilita realizar a recompra de sua dívida. Reduzindo sua alavancagem, ela pode obter, futuramente, uma estrutura de dívida mais vantajosa em termos de custo”, afirmou Cruz ao AgFeed.

A busca pela desalavancagem já havia sido sinalizado pelo management da JBS em calls recentes com analistas de mercado.

Na mais recente, realizada em maio, o CFO da empresa, Guilherme Cavalcanti, citou que a geração de caixa dos negócios de carne e de frango ajudariam nesse movimento.

No primeiro trimestre deste ano, as operações da Seara, JBS USA Pork e Pilgrim’s, de frango, registraram uma alta forte no lucro operacional medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortização). Respectivamente, o indicador saltou 711,1%, 569,8% e 77,7% em cada uma das unidades frente ao anotado em 2023.

A alavancagem é medida pela relação entre a dívida líquida e o Ebitda de uma empresa. Na JBS, considerando os dois números, o indicador estava em 3,7 vezes ao final de março de 2024. No final do ano passado, a alavancagem estava em 4,3 vezes.

A ideia da JBS era que esse indicador chegasse até o final deste ano em 3 vezes, mas segundo a direção, a tendência é chegar a uma relação de 2,5 vezes, o que abre espaço para pagar dividendos aos acionistas e também realizar investimentos e aquisições.

Após a divulgação dos resultados do primeiro trimestre, Isabella Simonato, analista do BofA, escreveu em um relatório enviado a clientes do banco que a JBS poderia ser uma das interessadas em adquirir a Oscar Mayer, marca de carnes da Kraft Heinz.
Segundo o Wall Street Journal, a Kraft Heinz busca um comprador para o ativo, avaliado entre US$ 3 bilhões e US$ 5 bilhões.

“A JBS poderia ser uma potencial compradora para o ativo, já que sua estratégia se baseia na expansão de suas plataformas globais. Esta estratégia pode ser apoiada pela esperada listagem das ações da JBS nos EUA”, pontuou a analista em relatório.

Segundo Simonato, a desalavancagem da JBS é fundamental para que esse tipo de negociação possa ocorrer.
Gustavo Cruz, da RB Investimentos, também projeta que outras empresas do setor, se estiverem em condições financeiras semelhantes, podem repetir a dose.

“Quando a Marfrig aliena ativos à Minerva, estagnados no Cade, um dos aspectos destacados é a melhoria esperada em sua alavancagem. Portanto, avalio esta ação da JBS como positiva, embora o perfil da dívida ainda se mantenha elevado”, acrescenta.