Pistas de Lula sobre perfil do próximo presidente do BC assustam banqueiros e gestores
As reiteradas críticas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, se tornaram corriqueiras e não afetam mais os mercados como no início do governo. Entretanto, as pistas que Lula deu nesta terça-feira, 18, sobre o perfil do próximo chefe da autoridade monetária causaram calafrios em quatro banqueiros e investidores ouvidos reservamente pela EXAME.
O petista afirmou, em entrevista à CBN, que quer no BC um presidente que “deve ter na cabeça meta de crescimento”, “que não se submeta à pressão de mercado” e que “tenha compromisso com o desenvolvimento do país”. Cabe ao presidente da autoridade monetária, entretanto, garantir a estabilidade do poder de compra da moeda, ou seja, controlar a inflação.
“Presidente de Banco Central faz política monetária, garante que a inflação não saia do controle, que é o principal imposto para os mais pobres. Quem faz política econômica e se preocupa com o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) é o ministro da Fazenda, os seus pares e o presidente da República. Esses sinais de Lula são péssimos”, disse um banqueiro.
Lula tem causado volatilidade excessiva, dizem executivos
O mesmo banqueiro reconheceu que o nome que desponta como favorito para o posto é o diretor de Política Monetária, Gabriel Galípolo, que, até momento, tem dado sinais de que não se desviaria do objetivo central, de combater a inflação. Entretanto, o mesmo executivo pondera que enquanto ele ou outra pessoa for anunciada formalmente pelo governo, as especulações a partir das declarações de Lula continuarão.
Outro executivo de mercado que acompanha o trabalho do BC há mais de 30 anos afirmou que Lula tem gastado energia significativa em criticar a autoridade monetária, o regime de metas para a inflação e os empresários. E isso, na prática, disse o gestor, só tem causado volatilidade excessiva na Bolsa de Valores, na taxa de câmbio, nos juros futuros e no risco país.
“O presidente Lula sempre foi um hábil negociador político, os empresários ganharam muito dinheiro no seu governo e a expectativa era de que não teríamos tanta turbulência. Aconteceu tudo ao contrário. Lula deixou de lado o Congresso, retomou a velha máxima de colocar empregados e patrões em confronto e só critica o mercado financeiro”, disse.
Custo para a política monetária
O próximo presidnte do BC, afirmou um outro analista, terá que ter tamanha credibilidade que ao sentar na cadeira ancore as expectativas de inflação. E isso não deve ocorrer, segundo o mesmo analista. O risco, alertou, é de que a autoridade monetária tenha que subir os juros para que as estimativas do mercado parem de subir. Ponto determinante nesse processo será quando os Estados Unidos iniciarão o ciclo de cortes da taxa por lá.
“O canal das expectativas é muito importante. Anunciar o sucessor de Campos Neto pode ancorar expectativas ou aumentar ainda mais as projeções, a depender do nome. A situação é extremamente complexa. Temos um mercado consumidor enorme, energia limpa e, ao mesmo tempo, insegurança jurídica de um lado e volatilidade excessiva criada pelo governo, do outro. Para piorar, o risco fiscal joga contra qualquer possibilidade de melhora do ambiente econômico”, resumiu o analista.
Outro banqueiro foi categórico na análise. “Lula critica reiteradamente o mercado, os empresários, bate no Banco Central e não tem maioria no Congresso. O governo de coalisão acabou em 1º de janeiro de 2023”, disse.
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