O presidente Luiz Inácio Lula da Silva demitiu Jean Paul Prates do cargo de CEO da Petrobras (PETR3; PETR4) e escolheu Magda Chambriard para comandar a companhia. A mudança no cargo acontece após diversas tensões entre Prates e o Ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira. No fim de março, o próprio Planalto passou a monitorar “ataques especulativos” sobre a saída do ex-senador do cargo.
No início de abril, o presidente Lula chegou a cogitar a entrada do atual presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, no lugar de Prates. O nome, no entanto, não foi bem recebido pelo mercado.
Na visão de Acilio Marinello, professor da Trevisan Escola de Negócios e Partner da Essentia Consulting, o nome de Magda Chambriard até poderia ser bem recebido pelo mercado pelo fato da nova CEO ser um nome técnico da área petrolífera, muito mais do que o próprio Prates. “Todavia, essa mudança abrupta na gestão da empresa gera uma desconfiança do mercado, visto que a troca de comando não decorre de critério técnico e, sim, acontece diante do fato de Prates não ter seguido a cartilha do governo. Com essa mudança sem grandes justificativas, o mercado passa a temer alguma ingerência política no comando da empresa”, afirma Marinello.
Ele lembra que Chambriard atua no setor petrolífero há muitos anos e que ela, inclusive, começou a trabalhar na Petrobras na década de 1980, quando acumulou conhecimentos sobre todas as áreas em produção no Brasil. Chambriard também começou a trabalhar na Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis do Brasil (ANP) em 2002. A executiva também já foi diretora da ANP entre 2012 e 2016 – confira o perfil completo dela aqui.
A XP Investimentos diz acreditar que Chambriard assumirá o comando da Petrobras em um contexto desafiador de significativas pressões externas. Por outro lado, ela encontrará a empresa com uma forte geração de fluxo de caixa livre, um balanço patrimonial desalavancado e um portfólio de investimentos sólido – confira aqui o último balanço da Petrobras. Os analistas da corretora enxergam que se a troca ocorresse em outro contexto, o nome seria positivo, visto que a nomeada tem carreira no setor de petróleo. No entanto, a mudança repentina adiciona significativa incerteza.
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“Os investidores estão particularmente preocupados com conflitos de interesse em temas como distribuição de dividendos, política de preços, planos de investimento, passivos fiscais contingentes e outros. Embora não esperemos mudanças significativas nos dividendos e nos planos de investimentos a curto prazo, reconhecemos que a incerteza aumenta consideravelmente a percepção de risco”, dizem Helena Kelm e Regis Cardoso, que assinam o relatório da XP.
Virgílio Lage, especialista da Valor Investimentos, diz que ainda é cedo para falar sobre Magda Chambriard no comando da Petrobras. No entanto, a troca no cargo deve trazer pressão para a ação no pregão desta quarta-feira (15). Isso porque, a reação no mercado internacional foi impiedosa com Petrobras – acompanhe o mercado hoje aqui, em tempo real.
Por volta das 9h03min, ações da Petrobras negociadas em Nova York, conhecidas como American Depositary Receipt (ADR) caíam 8,03%, a US$ 15,35. “Temos uma previsão que isso vai puxar Petrobras para baixo no mercado hoje e, consequentemente, o Ibovespa. Essa turbulência deve exigir cautela do investidor para não tomar posições de compra ou venda no calor do momento”, aponta Lage.
O que fazer com as ações da Petrobras?
Os analistas apontam que o investidor deve ter calma e paciência em um momento como esse e que a queda das ações pode abrir oportunidades. Os analistas lembram, por exemplo, de quando a Petrobras rejeitou pagar dividendos extraordinários, em março último. No dia 8 daquele mês, as ações preferências da Petrobras recuaram 10,57% e encerraram o pregão daquele dia a R$ 36,12. Na sessão desta terça-feira (14), os papéis da estatal fecharam o dia a R$ 40,87. Ou seja, as ações subiram 13,15% em dois meses.
Sendo assim, Acilio Marinello vê na possível queda de hoje uma oportunidade para o investidor comprar as ações da Petrobras para lucrar com uma eventual valorização dos ativos no mercado no futuro. “Para os investidores arrojados, essa é uma grande oportunidade de compra para lucrar com alta futura do papel. Enquanto os investidores mais moderados podem ver uma oportunidade para ampliar levemente as compras em Petrobras, a um preço mais barato”, aponta Marinello.
Já Virgílio Lage, da Valor Investimentos, diz que o investidor deve ser mais cauteloso e só comprar a ação se ele não se importar com a volatilidade do mercado. Ele reforça que o ideal é esperar o mercado digerir a mudança no comando da estatal e ver qual será o destino da companhia na gestão de Magda Chambriard. “Hoje as ações só estão atrativas para o investidor que busca ganhos com especulação. A questão de dividendos está muito incerta”, argumenta Lage.
A XP não deu detalhes do que o investidor deve fazer com a ação. A corretora diz enxergar um momento de muita incerteza que deve exigir cuidado por parte do investidor. Até ontem, a corretora recomendava compra para a ação com preço-alvo de R$ 45,10, uma potencial alta de 10,3% na comparação com o fechamento de terça-feira (14). Antes da mudança de CEO, a corretora estimava um dividend yield (rendimento de proventos) de 10% para a empresa com a atual política de dividendos. A corretora ainda não divulgou novas projeções.
“A empresa está guardando dinheiro em caixa que pode ser utilizado para potenciais fusões e aquisições – por exemplo, investimentos na refinaria de Mataripe ou na Braskem (BRKM5) – ou para pagar dividendos extraordinários no final do ano. Caso o dinheiro não seja utilizado para investimentos ou aquisições, a empresa deve distribuir um dividend yield de 18% com os proventos extraordinários no fim do ano, o que deixa o papel atrativo”, argumenta Helena Kelm, que assina o relatório da XP.
Ou seja, os analistas comentam que o investidor deve entender que o momento é muito incerto e o risco de perda é alto. Ainda assim, quem tiver um grande apetite ao risco e não se importar com prováveis volatilidades em busca de lucros maiores, a ação da Petrobras pode ser atrativa.