Foi aceso o alerta dos investidores da Petrobras (PETR3;PETR4) na última semana, quando o barril do petróleo viu sua cotação cair para abaixo dos US$ 80. Apesar da recuperação observada na segunda-feira (10) e nesta terça (11), em que o Brent fechou a US$ 81,63 e US$ 81,92, respectivamente, o temor de novas baixas está no radar. Afinal, a lógica é bastante simples: a queda do preço da commodity pode pesar contra a lucratividade da petrolífera — que, por sua vez, tem nos dividendos a sua tese de investimentos. Diante desse cenário, será que chegou a hora de deixar de investir na estatal e migrar para as petroleiras juniores?
Na avaliação de Ricardo França, analista da Ágora Investimentos, se a preocupação do acionista se concentra na geração de caixa da Petrobras, e consequentemente em seus proventos, este momento ainda não chegou. Segundo ele, a baixa na cotação do petróleo, observada nas primeiras negociações de junho, é uma “volatilidade normal”. França lembra que no início da semana a Organização dos Países Exportadores de Petróleo (Opep+) anunciou um plano de redução dos cortes de produção em outubro, apesar de preocupações com as expectativas para demanda.
“Isso acabou levando a um tipo de correção no preço do petróleo, mas já estamos vendo uma recuperação, com o barril voltando a ser negociado próximo a US$ 80”, aponta. A exemplo disso, na última quinta-feira (6) o Brent fechou cotado a US$ 79,87. “Naturalmente, as commodities passam por uma volatilidade, mas entendemos que as condições de mercado continuam favorecendo a manutenção dos preços em um nível saudável para as petroleiras.”
Dividendos da Petrobras podem diminuir?
Ainda que a recente desvalorização no preço da commodity não seja uma ameaça à lucratividade das empresas petrolíferas, é de se supor que o lucro possa ser menor diante desse cenário. Novamente, a principal fundamentação para analistas recomendarem o investimento na Petrobras é o retorno que ela gera aos seus acionistas — e com o barril do petróleo mais barato, imagina-se que os dividendos possam não vir tão robustos nos próximos balanços.
Para a XP Investimentos, não é esse o cenário mapeado e a corretora mantém uma visão construtiva para o setor e para as petrolíferas. Com destaque para a Petrobras, que vai sofrer menos pressão sobre a necessidade de reajustar para cima os preços domésticos da gasolina e do diesel. “Olhando para frente, esperamos uma relativa estabilidade nos preços da commodity em torno desse mesmo intervalo de preços que tem sido praticado nos últimos meses”, afirma Regis Cardoso, analista-chefe de Óleo, Gás e Petroquímicos do time de Research.
Já França, da Ágora, completa que a estatal brasileira continua com condições de ter um ano de resultados muito fortes. “Com geração de caixa bastante elevada e endividamento abaixo dos parâmetros estabelecidos pela própria empresa”, diz. O analista destaca um outro fator que o investidor pode não estar observando: a valorização do dólar frente ao real. “Em um grau compensa essa desvalorização do petróleo em dólares.”
Enquanto isso, o BTG Pactual, em relatório assinado por Pedro Soares e equipe de analistas do banco, destaca que mantém a recomendação aos seus clientes a exposição ao setor petrolífero, principalmente a empresas desalavancadas. “Sobretudo aquelas que oferecem uma elevada visibilidade na geração de fluxo de caixa do acionista (FCFE, na sigla em inglês). Ao comparar a Petrobras com seus pares globais e internos, vemos que ela é negociada com rendimento de dividendo (DY) descontado de 17% e 33%, respectivamente”, escrevem.
Por que o petróleo está volátil?
Embora a reunião da Opep+ da semana passada tenha contribuído para a queda na cotação do petróleo, essa volatilidade não é recente. Mahatma Santos, diretor técnico do Instituto de Estudos Estratégicos de Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (Ineep), explica que, desde meados de 2022 (gráfico abaixo), quando o barril ultrapassou a barreira dos US$ 100, a cotação da matéria-prima vem apresentando uma tendência de queda, oscilando entre US$ 75 e US$ 85.
“Essa flutuação nos preços reflete as perspectivas de um baixo crescimento da demanda por esse insumo energético em âmbito global”, afirma Santos. Em relação à desvalorização de mais de 5% do petróleo apenas no último mês de maio, ele explica que dois fatores explicam a baixa demanda. O primeiro vem do verão europeu, que aponta para uma redução do consumo da matéria-prima, o segundo de uma demanda não muito robusta da China, que é o seu principal comprador.
“A perspectiva é de que o preço continue nessa mesma faixa que observamos agora, com com pequenas flutuações daqui até o fim do ano. Porém, a cotação pode ir mais para cima se houver algum evento geopolítico que venha a interferir nos fluxos comerciais globais”, afirma.
É hora de investir em PETR4 ou nas Junior Oils?
Em torno do debate da queda da cotação do petróleo, é preciso ainda lembrar que as petroleiras juniores, como Prio (PRIO3), PetroReconcavo (RECV3) e 3R Petroleum (RRRP3) também terão seus resultados afetados. “Elas acabam sendo mais sensíveis a essa volatilidade, até porque ainda estão em fase de crescimento de produção, com tendência a longo prazo de reduzir o custo de exploração”, explica França, da Ágora Investimentos.
Ainda assim, o analista pontua que permanece observando um ambiente relativamente saudável para o preço do petróleo e que a volatilidade recente na cotação não mudou a percepção da casa em relação às companhias do setor. “A Prio pode vir a ser uma boa alternativa para crescimento de resultados em um período um pouco mais longo à frente”, diz. Em relação à Petrobras, o analista salienta que poderá ser pago um DY próximo a 12% referente ao ano de 2024. “Continua sendo muito convidativa para o investidor, principalmente aqueles que buscam a remuneração com dividendos.”
A XP Investimentos segue uma linha de raciocínio parecida, e mantém positiva sobre as petrolíferas, tanto para a estatal quanto para um das junior oil. “Temos uma recomendação de compra para Petrobras, com preço-alvo a R$ 45, e também para Prio, a R$ 67”, comenta Cardoso.