Onda de prisões no governo Putin realiza “desejo póstumo” de Prigozhin; entenda
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Remover um ministro da Defesa de longa data do seu cargo não é nada fora do comum. A prisão de cinco autoridades de alto escalão, no entanto, é mais do que apenas uma busca por sangue fresco – especialmente na Rússia de Vladimir Putin.
Após a destituição de Sergei Shoigu do cargo de ministro da Defesa, uma onda de prisões desmantelou os altos escalões do Ministério da Defesa russo sob o pretexto de uma campanha anticorrupção.
O momento é tão intrigante quanto as prisões e remodelações. Depois de quase três anos de fracasso nos campos de batalha na Ucrânia, a Rússia acaba de ganhar vantagem.
Nas últimas semanas, Moscou lançou uma ofensiva amplamente bem-sucedida no norte, em direção a Kharkiv, juntamente com vitórias na região de Donbass, também no leste.
A escassez de pessoal da Ucrânia e a diminuição do fornecimento de munições – agravada por meses de atraso no Congresso dos Estados Unidos para aprovar um pacote de apoio militar – também ajudaram a reverter a sorte russa.
A questão que fica é: por que abalar agora o Ministério encarregado de vencer a guerra?
Analistas que falaram com a CNN Internacional descreveram o Ministério da Defesa como um dos mais corruptos do país.
A mídia estatal russa tem divulgado contratos militares que valem quantias exorbitantes de dinheiro e envergonhado publicamente os altos funcionários do Ministério e seus estilos de vida luxuosos.
Mas, como disse um analista à CNN, o que estamos testemunhando é um “jogo policêntrico muito complexo”, que está relacionado com o timing e com a procura existencial de Putin pela vitória contra o Ocidente.
Alertas do “Chef de Putin”
Pairando sobre esta mudança está o fantasma de Yevgeny Prigozhin, ex-chefe do grupo mercenário Wagner, que era conhecido como “Chef de Putin”.
Antes da sua morte, ele expressou ódio por Shoigu e pelo principal general da Rússia, Valery Gerasimov, com farpas carregadas de palavrões, acusando-os e o Ministério de corrupção e incompetência.
Prigozhin liderou um motim em Moscou que deveria terminar com a derrubada de Shoigu e Gerasimov. Em vez disso, a ação colocou Vladmir Putin numa posição embaraçosa e desafiou a sua autoridade.
Putin respondeu apontando Prigozhin como um traidor e despojou-o dos seus bens, tudo antes de morrer num acidente de avião, ao lado dos seus conselheiros mais experientes.
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Desde então, Putin manteve as ineficiências na aquisição de armas pelo Ministério fora da vista do público, bem como a sua fracassada invasão da Ucrânia e as alegações de corrupção. O motivo: não mostrar quaisquer reações instintivas após o motim.
Fazer isso poderia colocar sua autoridade e força sob questionamento ainda maior do povo russo.
Putin provavelmente aguardava a sua reeleição pelo povo russo em março, antes de mover as peças contra o ministro da Defesa.
As mudanças ocorreram pouco depois das celebrações do Dia da Vitória, em 9 de maio, às quais Putin e Shoigu compareceram, lado a lado, numa convivência aparentemente amigável.
Apesar da sua remoção do cargo de ministro da Defesa, Shoigu permanecerá na órbita de Putin depois de ter sido transferido para uma nova função como secretário.
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Interesse de Putin: Ucrânia
Tatiyana Stanovaya, pesquisadora sênior do Carnegie Russia Eurasia Center, disse à CNN Internacional que o que importa não é se Prigozhin estava certo sobre a corrupção dos funcionários.
Na Rússia, disse ela, “o certo e o errado não existem na política – apenas os interesses importam”.
O interesse de Putin é manter a sua casa em ordem mas, mais premente, alcançar a vitória na Ucrânia. O Ministério da Defesa é fundamental para a forma como essa guerra termina.
Com a indicação de um economista civil, Andrey Belousov, como novo ministro da Defesa, Putin sinalizou que deseja que o Ministério, com o seu vasto orçamento, adquira armas de forma mais rápida e econômica.
O orçamento da Rússia para 2024 mostra que o país pretende gastar 6% de suas riquezas com defesa, o valor mais elevado da história moderna do país, e ultrapassará as despesas sociais — um sinal da transição do país para uma economia de guerra.
Corrupção
Mikhail Komin, cientista político russo e membro visitante do Conselho Europeu de Negócios Estrangeiros, disse à CNN que “o grupo de Shoigu, entre as elites russas, é um dos que mais procuram rendas. Mais, por exemplo, do que alguns membros do círculo íntimo de Putin”.
No dia 23 de maio, o tenente-general Vadim Shamarin, chefe da Direção Principal de Comunicação das Forças Armadas Russas, foi acusado de “receber um suborno numa escala especialmente grande”, de 36 milhões de rublos (R$ 2,09 milhões) de uma fábrica que abastece o ministério com equipamentos de comunicação. Em troca, ele teria concedido à empresa lucrativos contratos governamentais.
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Shamarin se declarou inocente, segundo a mídia estatal russa.
A mídia estatal russa também desempenhou um papel na comunicação da repressão do Kremlin ao ministério.
Após a prisão de Shamarin em maio, a estatal Ria Novosti informou que sua esposa havia comprado um Mercedez-Benz GLE em 2018 por 20 milhões de rublos (R$ 1,16 milhão), numa época em que sua renda não ultrapassava de cerca de R$ 180 mil.
Um relatório separado descobriu que sua renda naquele ano foi de 872 mil rublos (R$ 50.586,31 na cotação atual).
O perfil mais destacado dos cinco funcionários presos era Timur Ivanov, vice-ministro da Defesa. Ele foi colocado em prisão domiciliar no final de abril, também sob suspeita de aceitar subornos.
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Ivanov tornou-se um foco da Fundação Anticorrupção, fundada por Alexey Navalny, que foi morto numa prisão russa em fevereiro.
Ele e a sua organização expuseram o estilo de vida luxuoso desfrutado pela companheira de Ivanov – visitando joalheiros apenas para convidados, vestindo roupas de alta costura e possuindo um chalé na elegante estância de esqui de Courchevel, em França.
Eles questionaram como ela conseguia ter esse estilo de vida quando o salário do marido era correspondente a R$ 918.100 por ano.
A mídia estatal russa informou que Ivanov mantém sua inocência.
Para Stanovaya, as razões para substituir figuras como Ivanov e Shamarin são simples. “Parte da lógica de Putin é que não se pode colocar alguém nesta posição [como ministro da Defesa] onde existem interesses significativos do anterior.”
Para ajudar a limpar o ministério, Putin nomeou Oleg Savelyev, antigo auditor da Câmara de Contas da Rússia, como vice-ministro da Defesa. Ele estará “consciente da corrupção que já existe no setor de defesa”, disse Komin.
O desejo póstumo de Yevgeny Prigozhin
Dadas as mudanças radicais feitas pelo presidente, surgiram rumores sobre a posição do Chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Valery Gerasimov, o outro alvo dos discursos de Prigozhin.
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Stanovaya aponta que “há rumores de que ele [Gerasimov] poderá ser demitido em breve”, mas o fato de o general ter sido poupado até agora dá a Gerasimov “uma janela para começar a lutar por seus próprios interesses”, acrescentou.
“Gerasimov está lutando contra seus inimigos, tentando garantir seu futuro”, disse Stanovaya.
Komin concordou que Gerasimov pode manter a sua posição por enquanto, já que Putin disse que não pretende fazer quaisquer outras alterações.
Crucialmente, Komin sugeriu que a sorte de Gerasimov pode ser a falta de uma posição, semelhante à de Shoigu, onde ele possa ser afastado publicamente sem manchar completamente sua reputação: “não é grande coisa encontrar o novo cara. É mais importante encontrar o lugar para o cara anterior.”
Na Rússia de Putin, o presidente continua concentrado na vitória na Ucrânia, mas as recentes aberturas mostraram que o elenco de apoio pode mudar e que o presidente está pronto para ser implacável na sua busca pela vitória.
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