Inflação baixou, mas Fed ficou mais conservador: o que aconteceu?
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Investidores desavisados podem ter ficado surpresos com a postura do Federal Reserve (Fed, o banco central americano) em sua última decisão de juros. Na quarta-feira, 12, o Fed assumiu uma postura mais conservadora, e projetou apenas um corte de juros este ano – reduzindo a projeção de até três cortes anunciada em março.
Em um primeiro momento a sinalização parece um descompasso se observado o comportamento recente da inflação nos Estados Unidos. O Índice de Preço ao Consumidor (CPI, na sigla em inglês), divulgado também na quarta-feira, recuou de 3,4% para 3,3% em maio e seu núcleo, de 3,6% para 3,4%. O número mostrou leve melhora em relação ao consenso, que projetava o CPI em 3,4% e seu núcleo em 3,5%.
Em tese, seria motivo para que o Fed fosse mais otimista em suas projeções. A “contradição” é explicada, segundo a Gavekal Research, por dois fatores: momento e confiança.
“Quanto ao momento, as projeções de corte reduzido das taxas são uma resposta atrasada ao susto da inflação do primeiro trimestre”, explicou Will Denyer, analista-chefe para Estados Unidos da Gavekal.
A última decisão do Fed, em 20 de março, só tinha dois dados de inflação, de janeiro e fevereiro, que poderiam ser considerados como ruídos ou solavancos no caminho. Em março, no entanto, vieram dados mostrando o terceiro aumento consecutivo da inflação – acendendo um alerta vermelho.
“[A decisão desta] quarta-feira foi a primeira oportunidade desde então para os decisores políticos reverem suas expectativas de taxas para o ano, e eles fizeram proveito dela”, afirmou Denyer.
A confiança, por sua vez, explica por que o Fed não manteve a projeção de três cortes nas taxas de juros mesmo depois de dois meses de dados de inflação relativamente favoráveis em abril e maio. “O susto da inflação do primeiro trimestre efetivamente acertou o relógio.”
A avaliação da Gavekal é que agora o Fed irá precisar de uma série mais consistente de números benignos de inflação antes de recuperar a confiança de que o indicador está no caminho da meta de 2% ao ano. “Isso significa que, mesmo que a inflação continue a ser favorável, a janela para cortes nas taxas deste ano é muito menor do que foi em março.”
Denyer indica que, se a inflação tivesse continuado a acelerar no segundo trimestre, haveria até mesmo o risco de projeções para aumentos de taxas ainda este ano.
O que esperar da inflação nos EUA
A Gavekal indica que a inflação continuará moderada, considerando quatro fatores:
- a contração da oferta monetária;
- as positivas pressões na cadeia de abastecimento;
- os dados de crescimento mistos;
- e os preços da gasolina em baixa.
Existem, no entanto, alguns riscos para essa perspectiva que, segundo o analista, são “substanciais”. O primeiro deles é que um aumento da demanda, seguido pelo risco de que o aluguel da habitação, medido pelos índices de inflação dos EUA, possa moderar mais lentamente do que muitos esperam.
Reação do mercado à inflação
Mesmo com o conservadorismo do Fed, o mercado se animou. A taxa de inflação implícita dos títulos de 10 anos do Tesouro protegidos contra a inflação caiu 5 pontos base, para o seu nível mais baixo desde fevereiro, contribuindo para uma queda de 8 pontos base no rendimento nominal de 10 anos. A redução dos rendimentos, por sua vez, alavancou os preços das ações americanas nos últimos dias.
“Mas com a moderação da inflação, as esperanças de cortes nas taxas ainda vivas, o entusiasmo contínuo em relação à IA e as grandes recompras de ações (graças à Apple), os investidores estão atualmente inclinados a ignorar as avaliações relativas e a aumentar o preço das ações”, completou Denyer.
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