Dólar vai cair? Ibovespa deve subir? Saiba o que esperar após decisão unânime do Copom
O Copom (Comitê de Política Monetária) entregou a decisão esperada, mantendo a taxa Selic em 10,50% ao ano, com unanimidade. Para o Itaú Unibanco, o comunicado mostrou que o comitê está monitorando as implicações da política fiscal na política monetária e nos preços dos ativos, principalmente a taxa de câmbio.
Também foram apresentadas projeções com taxa Selic inalterada em 10,50%, com inflação em 4,0% e 3,1% até o final de 2024 e 2025, respectivamente, apoiando a decisão. O Copom observou, segundo o banco, que as expectativas de inflação se afastaram um pouco mais da meta de 3% ao longo do horizonte.
“As autoridades mantiveram o balanço de riscos simétrico em torno do seu cenário de referência e mencionaram eventuais ajustes futuros (nos dois sentidos) da Selic, não mais citando cortes nas taxas”, comenta o Itaú em relatório.
“Em nossa visão, esta decisão e comunicado de livro-texto, apoiadas de forma unânime por membros do Copom, deverão ajudar a restaurar a confiança no compromisso do comitê com a meta de inflação, que, certo ou errado, tinha aparentemente sido prejudicada pelo dissenso anterior”, avalia o banco.
Dessa forma, a instituição espera que a taxa Selic termine este ano e o próximo no atual nível de 10,50%.
“Outro passo importante para restaurar a confiança seria a publicação do decreto que regulamenta o cumprimento da meta contínua de 3,0%. A opção por um período de convergência mais longo seria vista como um sinal de leniência com a inflação e prejudicaria os esforços do Copom para reancorar e controlar as expectativas de inflação”, alerta o Itaú.
Retomada do ciclo de cortes da Selic
Na avaliação do Bradesco, a decisão de interromper o ciclo de afrouxamento foi motivada pelo aumento nas previsões de inflação, em meio a uma atividade econômica resiliente e expectativas desancoradas, além de um cenário externo incerto.
Além disso, o banco anotou em relatório que o Copom sinalizou que deve manter a política monetária em território restritivo por tempo suficiente para consolidar o processo desinflacionário e a reanconragem das expectativas de inflação. Ao mesmo tempo, destacou que as decisões futuras serão guiadas por seu firme compromisso de trazer a inflação para a meta.
“A decisão unânime é um sinal importante de que não há discordância dentro do Copom quanto à importância de perseguir firmemente a meta de inflação. Nossas previsões de inflação, de 3,8% para o final de 2024 e 3,1% para o final de 2025, abrem espaço para que o Copom retome a redução da taxa Selic no segundo semestre de 2025, levando-a a 9,5% até o final do ano”, escreve o Bradesco.
Queda do dólar? Recuperação do Ibovespa?
Antes de a decisão do Copom ser conhecida na quarta-feira, o Ibovespa subiu 0,53% e recuperou o patamar de 120 mil pontos. Enquanto isso, o dólar continuou a escalada frente ao real e encerrou a sessão cotado a R$ 5,44. Agora, a expectativa é se votação unânime pode trazer alívio para as negociações na bolsa de valores brasileira e também na cotação da moeda americana.
“Para o mercado é um sinal de que os novos diretores estão alinhados com a visão de uma postura mais cautelosa do Copom neste momento. Sendo assim, o mercado deve pedir menores prêmios na curva de juros, uma vez que um dos riscos para a decisão era uma percepção de leniência dos novos diretores”, comenta Nicolas Borsoi, economista-chefe da Nova Futura Investimentos.
“Isso deve contribuir para queda das taxas de juros e do câmbio. E esse alívio nos juros e no câmbio devem reduzir a pressão de venda na bolsa, contribuindo para uma recuperação do Ibovespa”, indica Borsoi.
Real x dólar
Para o Julius Baer, a interrupção no ciclo de corte dos juros deverá apoiar o real contra o dólar. Essa perspectiva também está relacionada ao fato de a manutenção da Selic em 10,50% ter sido sem divergências entre os integrantes do Copom.
“A votação unânime (após definição dividida da última reunião) deverá aliviar as preocupações dos investidores sobre o compromisso do Banco Central em controlar a inflação e reancorar as expectativas de inflação. Agora, o foco dos ativos brasileiros muda para as preocupações fiscais.”
O banco suíço destaca ainda que, em um esforço para aliviar as preocupações, o presidente Lula sugeriu que está disposto a discutir o corte de despesas, desde que as distribuições aos pobres não sejam afetadas.
Por último, o Julius Baer já coloca no radar a sucessão no Banco Central. “O novo presidente, que substituirá Roberto Campos Neto e nomeado pelo presidente Lula, provavelmente adotará uma abordagem mais branda em relação à inflação. A pausa na flexibilização deve apoiar o BRL.”