O dólar voltou a disparar no mercado à vista na manhã desta quarta-feira (12), cotado aos R$ 5,43, em alta de 1,29%. Trata-se do maior valor em 18 meses, quando a moeda americana atingiu os R$ 5,47, no dia 4 de janeiro de 2023.
A alta do câmbio ocorre em meio ao discurso do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que destacou que o governo está “colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal”, mas que “não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia”. O Governo Federal está pressionado para reduzir gastos em um momento de dificuldade para aumentar a arrecadação. Na noite da terça-feira (11), o Senado Federal devolveu a Medida Provisória (MP) que restringia a compensação de créditos do PIS/Cofins em contrapartida à perda de arrecadação com a desoneração da folha de pagamentos. A medida poderia aumentar a receita federal em R$ 29,2 bilhões.
Já o Ibovespa, principal índice acionário da bolsa de valores brasileira, passou a cair, cedendo para o mesmo nível visto em 13 de novembro do ano passado (mínima aos 119.878,23 pontos). Por volta das 12h30, o IBOV registrava queda de 1,37%, aos 119.973,08 pontos, refletindo o crescimento das preocupações fiscais.
O diretor de câmbio da corretora Ourominas, Elson Gusmão, avalia que, além da incerteza sobre a sinalização do Federal Reserve (Fed) e os juros nos EUA, o ruído político envolvendo governo e o Senado reforça a cautela local com o quadro fiscal em meio à indefinição sobre as fontes de compensação para a manutenção da desoneração da folha de pagamentos de empresas de 17 setores e de municípios menores.
Além disso, segundo ele, o Senado ficou responsável pela definição das fontes de compensação à desoneração, à medida que a equipe econômica não tem plano B, o que apoia desgaste de Haddad. “O diálogo entre governo e o Congresso não é bom e gera cautela política, a pauta fiscal está parada no Congresso. Isso traz desconforto”, reiterou.
Cotação em disparada
O dólar vem em uma trajetória de alta há algum tempo, um movimento que se acentuou nos últimos pregões. Segundo dados levantados por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, o relata tem a terceira maior desvalorização frente à moeda americana no ano. O dólar acumula uma alta de 10,56% no ano em relação à divisa brasileira. Apenas o peso da Argentina e o iene do Japão têm desvalorizações maiores em 2024.
Como mostramos aqui, o movimento de valorização no ano reflete o comportamento dos investidores em busca de proteção em meio às dúvidas sobre o início do corte de juros nos Estados Unidos, mas nas últimas semanas o risco fiscal no ambiente doméstico ajudou a impulsionar ainda mais a alta.
Aos poucos, o mercado deixa de acreditar que o câmbio encerre o ano na casa dos R$ 5, como previa inicialmente o Boletim Focus na virada de 2023 para 2024. A edição mais recente, publicada nesta segunda-feira (10), traz uma projeção de R$ 5,05 para o fim do ano, mas há quem esteja ainda mais pessimista. O Itaú BBA, por exemplo, revisou suas expectativas e agora espera que o dólar esteja em R$ 5,15 em dezembro.
Onde investir para lucrar com a alta do dólar?
Para quem quiser aproveitar a tendência de alta, os analistas recomendam investir em dólar em vez de comprar a própria moeda. Isso porque o investidor tende a pagar taxas maiores na compra do dólar físico do que em outras modalidades de investimentos.
“O investidor estará sujeito a spreads e cotações oscilantes, além de pagar 1,1% de IOF. É preferível optar por produtos de investimento já em dólar com uma conta internacional em uma corretora do Brasil. Assim você está sujeito às oscilações apenas do mercado norte-americano, tirando as oscilações brasileiras do horizonte”, explica Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos.
Uma das formas de investir em dólar sem comprar a moeda diretamente é via contratos futuros de dólar na B3, a Bolsa de Valores brasileira. Há duas categorias desse tipo de contratos: contratos cheios de dólar (DOL) e minicontratos de dólar (WDO).
“Os contratos cheios são para quem deseja movimentar grandes quantias, pois eles correspondem a uma movimentação de US$ 50 mil por unidade. O mini contrato é indicado para quem vai operar valores menores, pois cada minicontrato vale US$ 10 mil”, diz Lopes.
Ela explica também que o contrato de US$ 10 mil não tem mínimo para operar, enquanto o de US$ 50 mil tem o mínimo de 5 contratos, equivalente a US$ 250 mil.
Por causa desse valor elevado, os especializadas consultados pelo E-Investidor comentam que essa modalidade é mais recomenda para quem tem um maior poder de barganha para investir, visto que em real é necessário ter pelo menos R$ 50 mil para comprar um contrato, o que passa a ser complicado para investidores com um patrimônio não tão grande.
Na visão de João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão, o dólar futuro não é uma boa alternativa para o investidor que não está acostumado à volatilidade do mercado futuro. “O contrato futuro prevê fluxos diários de entrada e saída de recursos e, portanto, deve ser monitorado de forma recorrente. É um produto voltado para investidores mais experientes ou que desejem fazer alguma operação de proteção de carteira”, explica o analista.
*Com informações do Broadcast