De Pindorama para o mercado de capitais, a ambição da Colombo no mercado de máquinas

De Pindorama para o mercado de capitais, a ambição da Colombo no mercado de máquinas
De Pindorama para o mercado de capitais, a ambição da Colombo no mercado de máquinas

“A primeira máquina foi feita com tábuas de madeira, em 1973, pelo meu avô e os irmãos dele”, conta Leonildo Colombo Neto ao AgFeed. Cinquenta e um anos depois, essa história, que representa tantas outras de famílias que progrediram no agronegócio brasileiro, começa a ser contada também no mercado de capitais.

Neto Colombo, como ele costuma ser chamado, é o representante da terceira geração na direção da indústria de máquinas que nasceu em uma lavoura de amendoim no interior de São Paulo e hoje exporta peças, implementos e até colheitadeiras para mais de 60 países.

O avô, fundador, está no conselho de administração. Seu pai, Luiz Hermínio, é o CEO e ele, atualmente, o diretor de operações (COO), já sendo preparado para a sucessão da empresa, que vive um momento especial.

A Indústrias Colombo acaba de fazer sua primeira captação junto a investidores, com a emissão de R$ 50 milhões em notas comerciais. Foi uma estreia que ajudou a referendar um processo de estruturação da companhia, que nos últimos anos passou por uma profunda transformação em várias áreas, da gestão ao chão de fábrica, e ganhou visibilidade em um mercado dominado por grandes multinacionais.

Com receita de R$ 503 milhões no ano passado, a empresa ingressou no mercado de máquinas automotrizes no seu segmento mais sofisticado, o de colheitadeiras, e, a partir de nichos específicos, estabeleceu um plano para levar as receitas a mais de R$ 800 milhões em 2028.

A história da Colombo acompanha a evolução do cultivo de amendoim no Brasil nas últimas cinco décadas. Leonildo Colombo, o avô, e os irmãos, produtores rurais na região de Pindorama, no interior paulista, buscavam uma forma de trocar a colheita manual de amendoim por uma tecnologia mais avançada.

A solução foi desenhada por eles mesmos e construída com a madeira de um mangueirão desmontado. “Eles criaram da cabeça deles, com meio no conhecimento pratico deles de como debulhar o grão, como trilhar o feijão. Eram meio Professor Pardal”, diz Neto.

A máquina de madeira virou uma oportunidade de negócio, que eles abraçaram. E passaram a evoluir e diversificar. Do amendoim para o feijão, depois o café. Da madeira para os implementos de aço. E também passaram a fabricar peças – cardãs e peças de transmissão – que seriam vendidas para outros fabricantes.

Hoje, o portfólio de produtos da Colombo é amplo e alguns de seus implementos, mais sofisticados, chegam a custar mais de R$ 500 mil. E, nos últimos cinco anos, a empresa passou a disputar um mercado de gente ainda maior: o de máquinas automotrizes.

Em 2019, a Colombo se tornou oficialmente uma indústria de colheitadeiras, com a venda da primeira Avanti, máquina que pode ser usada na colheita de amendoim, feijão e outras vagens – inclusive sementes de soja, mercado que a companhia começa a explorar agora.

“A gente vem desenvolvendo esse produto desde 2015. Em 2019 a gente começou a vender e a preparar parte da fábrica para ir crescendo o volume de produção”, relata o executivo. “Este ano a gente quer fabricar em torno de 30 a 33 Avantis. No ano passado foram 18 e no anterior, 8. Então, a gente vem numa rampa aí”.

Uma rampa em números e em complexidade operacional. A produção de uma colheitadeira envolve um universo maior de processos e peças, inclusive de motorização e outros sistemas integrados às máquinas, que não existiam nos implementos que a companhia produz.

E essa complexidade acaba se refletindo em toda a organização, que foi, segundo Neto, se transformando e amadurecendo para encarar o plano de crescimento.

Na companhia desde 2015, ele assumiu em 2019 a diretoria administrativa financeira e, em fevereiro do ano passado, a diretoria de operação. “É como fosse uma vice-presidência, dentro do movimento de estruturação da companhia, um primeiro passo de sucessão”.

A Colombo, nesta década, vem passando por uma série de transformações gerenciais, que vão da implantação de boas práticas de gestão no chão de fábrica a mudanças amplas na governança.

Antes era uma sociedade compartilhada por quatro sócios pessoas físicas. Hoje, é estruturada em holdings, que convivem a partir de um acordo de acionistas, “um protocolo de família para reger essa relação família-propriedade-gestão”.

Houve a criação de um conselho consultivo e, a partir de 2018 a Colombo passou a ter seus números auditados. “Foi um movimento para atender esse nível maior de complexidade da companhia, porque o negócio também está crescendo e olhando para o futuro e para o que esse nível maior de governança pode abrir de portas para a gente”.

A porta do mercado de capitais é uma delas. Até agora, a Colombo vinha financiando seu crescimento com recursos próprios e com linhas de financiamento com bancos.

Com a companhia ganhando porte e governança, o entendimento interno foi de que buscar alternativas no mercado de capitais fazia sentido. “A gente passa a ter acesso a um número maior de bolsos que podem estar dispostos a emprestar para a empresa, para além do que seria um portfólio específico só de bancos”, diz Neto.

A primeira opção foi pela emissão de dívidas, com uma operação de Notas Comerciais. Neto avalia que a foi bem-sucedida, oferecendo taxas um pouco mais atrativas do que as que seriam obtidas no mercado bancário. Mas que os ganhos maiores virão no futuro.

“Esse ganho vai sendo construído aos poucos à medida que a companhia vai ganhando reputação no mercado de capitais”, pondera. “Aí sim você começa a ter um distanciamento maior do que seria o mercado convencional de bancos.

A Colombo já projeta, para os próximos anos, novas captações para continuar sustentando o patamar de liquidez da companhia, com a rolagem de dívidas. Neto diz que as projeções da empresa são de que a própria operação deve sustentar o investimento necessário para o crescimento.

Emissões de ações ou abertura de capitais, por enquanto, não aparecem do radar. Segundo Neto, são possibilidades monitradas, mas que não fazem parte do cardápio de opções nesse momento. O mesmo vale para uma relação com fundos de investimento em private equity.

Novos mercados, aqui e lá fora

No planejamento da Colombo, cabe aos novos produtos e ao avanço das exportações a responsabilidade de puxar o crescimento dos próximos anos. A Avanti é a protagonista, mas outros produtos, que ainda estão no pipeline de desenvolvimento, e que devem ser lançados nos próximos anos.

A empresa deve investir este ano cerca de 4% a 5% de seu faturamento na expansão da capacidade de produção, de olho em oportunidades como, por exemplo, a expansão da área plantada de amendoim no Brasil.

Hoje bastante associada à rotação com a cana no estado de São Paulo, ela começa, segundo Neto, a atrair produtores em regiões do Mato Grosso do Sul e do Mato Grosso, por exemplo.

Ele também vislumbra ganhos de mercado em países onde a cultura, carro-chefe dos negócios da companhia, já está consolidada, como os Estados Unidos.

“A área plantada de amendoim lá pe quase o triplo da nossa. Tem muita oportunidade de crescimento ali”, diz.

A unidade de máquinas, que compreende implementos e as colheitadeiras Avanti, responde atualmente por 70% das receitas da Indústrias Colombo. Os outros 30% vêm da unidade de transmissão, com a venda de cardãs e caixas de transmissão, fornecidos, segundo Neto, para 65% dos fabricantes de implementos agrícolas do País.

Na subida da rampa do mercado de máquinas automotrizes, a empresa teve como primeiro foco os mercados de amendoim e feijão, onde sempre teve uma presença forte com as máquinas rebocadas. Mais recentemente, tem buscado espaço para a Avanti em um nicho dentro da cultura de soja, a maior do País.

O alvo são os produtores de sementes de soja. Segundo Neto, a expertise adquirida nas duas primeiras culturas, “que exigem uma delicadeza muito maior no processo de colheita para você não danificar grãos e vagens”, pode ser um diferencial relevante também em outros segmentos que exigem menor grau de dano mecânico nos grãos colhidos.

“No mercado de semente de soja, quanto menor o índice de dano mecânico, maior o índice de germinação”, diz. “Por isso entendemos que nosso sistema, atrelado a essa máquina de alta performance, consegue oferecer um valor diferente para quem que produz semente.

A Colombo posiciona a Avanti como uma colheitadeira multiculturas. Com a mesma máquina, o produtor pode, trocando a plataforma recolhedora e o jogo de peneiras internas, colher amendoim, feijão, soja e milho, por exemplo.
Assim, defende Neto, torna-se um investimento mais rentável para o produtor, porque poderia trabalhar mais meses ao longo do ano. Essa característica, de acordo com o executivo, é importante para o mercado americano, onde a Colombo já tem hoje uma operação relevante.

Neto Colombo, COO da Indústrias Colombo

“Lá no sul dos Estados Unidos, se produz muito amendoim. E, geralmente, os produtores de amendoim também têm milho, por rotação. Eles teriam que ter uma máquina para o milho e uma máquina para o amendoim, porque uma colheitadeira convencional não tem condições de colher o amendoim, justamente pelo dano mecânico que ela promove”, explica.

Os embarques da Avanti para os Estados Unidos já começaram. A empresa mantém há alguns anos uma base no estado da Georgia para a montagem de implementos, que hoje também monta as máquinas maiores.

Uma estrutura semelhante é mantida em Córdoba, na Argentina, que também tem relevância na produção de amendoim. Nos dois mercados, que lideram entre os 60 para os quais a Colombo exporta, além da montagem, possui equipes para comercialização, assistência técnica e suporte para o produtor durante a safra.

Para o mercado de peças, a Colombo também está atenta à geopolítica externa. A China é a principal concorrente nesse segmento, mas Neto acredita que um tensões comerciais com o Ocidente podem oferecer oportunidades para uma fabricante brasileira como alternativa de fornecimento para a indústria de máquinas em outros países.

Foi nesse segmento que a Colombo mais sentiu impactos a retração, nos últimos meses, do mercado de máquinas agrícolas, em virtude da redução de encomendas de outros fabricantes.

Ainda assim, em 2023 a companhia conseguiu repetir o faturamento do ano anterior e projeta um crescimento de 5% a 8% para 2024. O fato de atuar em alguns nichos que não sofreram tanto com a queda de preços de commodities como milho e soja, segundo o executivo, explica esse desempenho em um momento em que outras empresas do setor apresentam quedas significativas de receita.

“Acreditamos que, nos próximos anos, haverá uma acomodação, com a volta de um crescimento mais consistente”, diz ele.