Com “novo velho” CEO, Comfrio abre novas rotas para ocupar mais terreno no agro

Com “novo velho” CEO, Comfrio abre novas rotas para ocupar mais terreno no agro
Com “novo velho” CEO, Comfrio abre novas rotas para ocupar mais terreno no agro

Um novo velho rosto acaba de assumir a cadeira de comando na Comfrio, empresa de logística refrigerada controlada pelo Aqua Capital. A empresa oficializou esta semana que o então diretor de operações (COO), Flávio Martil, assumiu o posto de CEO.

Ele substitui Sidney Catania, que estava no posto desde 2019 e agora assumirá a presidência do conselho de administração da companhia.

Martil acumula 15 anos de Comfrio, divididos em duas passagens. Na primeira, de 2002 a 2005, foi gerente operacional e comercial. Depois de passar por outras empresas ainda no segmento de logística, voltou para a companhia em 2011, onde passou por cargos de diretoria e se tornou COO no começo deste ano.

“Nesses 15 anos de Comfrio, pude vivenciar o crescimento da empresa e essa experiência me deu condições de entender cada área e cada negócio da companhia. Em muitas áreas, participei desde o princípio. A mudança de CEO não é uma ruptura e sim uma continuidade”, disse ao AgFeed o novo presidente.

Martil assume o posto em meio a um momento de expansão na Comfrio. A empresa foi recomprada pelo Aqua Capital em setembro passado, alguns meses após ter seu controle vendido para Americold. Este ano, anunciou, investirá R$ 90 milhões para expandir seus mercados no País.

Com sede em Bebedouro (SP), mas com operações em todas regiões do Brasil, a Comfrio encontra no agro a maior parte de seu faturamento. Além de atender gigantes como BRF, Minerva, Danone e sementeiras como Bayer e Corteva, presta serviços para redes de food service como Outback e Starbucks.

Martil afirma que o momento atual da Comfrio se baseia no crescimento e na procura por novos clientes. Atualmente, a empresa está investindo para expandir ou modernizar 12 centros de distribuição e construir mais um na Bahia.

Hoje, são 25 centros espalhados pelo País. Além disso, a empresa pretende adquirir mais 150 veículos para sua frota, que hoje conta com 200 caminhões.

Sem divulgar valores, a empresa afirma que cresceu seu faturamento em 17% em 2023, quando comparado ao ano anterior. Já o lucro operacional, medido pelo Ebitda (lucro antes de juros, impostos, amortização e depreciação), saltou 70% na mesma comparação, segundo a companhia. O faturamento está estimado em um patamar acima de R$ 400 milhões anuais.

De acordo com o CEO, Flávio Martil, 30% da receita está ligada ao negócio de sementes, que envolve, além do transporte e armazenamento refrigerado, unidades para tratamento de sementes.

Ele explica que essa operação foi constituída para atender multinacionais que precisavam transportar e armazenar sementes transgênicas de milho e soja. As sementes do grão correspondem ao maior volume transportado, o que segundo Martil, faz a Comfrio ser líder nesse mercado. A empresa também atua com sementes de sorgo.

Na vertical, a empresa possui operações em centros de distribuição em Londrina (PR), Uberlândia (MG), Cuiabá e Lucas do Rio Verde (MT) e Itumbiara (GO). Atualmente, a Comfrio avalia se instalar em novas regiões, como no Mato Grosso do Sul, no Matopiba e também em mais uma cidade do Paraná.

“Nos posicionamos para fazer parte da cadeia logística entregando um serviço com controle de umidade e temperatura e estamos sempre de olho nas necessidades de mercado. Nosso escopo permite que os clientes posicionem o estoque próximo das áreas produtoras”, afirma.

Flávio Martil, novo CEO da Comfrio

Flávio Martil também vê oportunidades para a Comfrio atuar no transporte de produtos biológicos. Diferentemente dos produtos químicos, um dos principais desafios do setor de biológicos é o prazo de validade dessas soluções, ou “shelf life”, no jargão da distribuição.

Como em alguns casos são organismos vivos, esse período pode ser de um mês ou algumas semanas. No caso dos macrobiológicos, em geral pequenos insetos como vespas ou ácaros, a vida útil varia entre 7 a 21 dias. Essa vida mais curta faz com que, em muitos casos, o produtor tenha que aplicar produtos já no recebimento.

Segundo o executivo, a empresa já possui todo o know-how para trabalhar com esses produtos, pois enfrenta desafios de umidade e temperatura baixa no segmento de food service, que traz mais 20% para a receita da empresa.

“Sempre conversamos com os clientes para avançar na cadeia. Da mesma forma que avançamos no tratamento de sementes, inicialmente trabalhávamos só com armazenagem”, afirmou.

No tratamento, a empresa possui dois pólos, um em Lucas do Rio Verde e outro em Uberlândia. Atualmente, a companhia avalia abrir mais uma unidade de tratamento em Cuiabá. “Estamos estudando com multinacionais e outros clientes parceiros que trazem volume”.

Dentro da Comfrio, o agro vai muito além. Considerando o segmento de bens e serviços, a empresa também atua no transporte de suco de laranja, proteína animal e de leite e derivados.

Nessa categoria, que soma outros 40% do faturamento da Comfrio, também conhecida como FMCG (sigla em inglês para Bens de consumo de rápido movimento), 80% de tudo transportado pela companhia nesse setor é ou proteína animal ou lácteos.

Fora do agro, a empresa atua com bens de consumo como produtos de higiene, limpeza, eletrodomésticos e até tabaco, que também é um produto que tem uma origem nos produtores rurais.

Compra e recompra

Os ativos da Comfrio fazem parte do terceiro fundo de private equity da Aqua Capital, veículo que também controla a Solubio, de defensivos biológicos, e a NovusAg, varejista de insumos agrícolas dos EUA.

A empresa de logística voltou a fazer parte do portfólio da gestora depois de um curto período sob o controle da Americold, grupo americano avaliado em US$ 9 bilhões na Bolsa de Nova York.

Há três anos, ao adquirir a Agro Merchants Group, a Americold levou no pacote uma fatia minoritária na Comfrio e, de quebra, uma opção de compra da companhia brasileira, controlada, então, pelo fundo 1 do Aqua.

O grupo americano resolveu exercer a opção e adquiriu a Comfrio – a transação recebeu aval do Cade em março do ano passado.

Meses depois, porém, decidiu colocá-la à venda. O Aqua demonstrou interesse e, em setembro, retomou o controle, por um valor não revelado, através do seu Fundo 3.

A Americold detinha – e ainda mantém – participação minoritária da SuperFrio, uma das principais concorrentes da Comfrio, administrada pelo Patria Investimentos.

No final do ano passado, a SuperFrio deu sinais de que também quer crescer seu mercado. Em dezembro, captou R$ 95,9 milhões com a emissão de um CRA, organizado em conjunto com a Ecoagro.

Os CRAs da SuperFrio estão encarteirados no Fiagro KOPA11, da Kinea. Em uma entrevista dada ao AGFeed em janeiro deste ano, o gerente agro da gestora e co-gestor do fundo, Alexandre Marco, explicou que esse é o segundo Fiagro da casa, e tem um perfil mais robusto de operações, com empresas mais high yield.

O fundo finalizou sua primeira captação em dezembro, levantando R$ 350 milhões.