Com bateria “arriada”, montadora de carros elétricos entra com pedido de recuperação judicial

Com bateria “arriada”, montadora de carros elétricos entra com pedido de recuperação judicial
Com bateria “arriada”, montadora de carros elétricos entra com pedido de recuperação judicial

O momento ruim do mercado de carros elétricos fez mais uma vítima. A startup americana Fisker apresentou na noite de segunda-feira, 17 de junho, um pedido de recuperação judicial, em meio às dificuldades de produzir em larga escala seu primeiro veículo, o utilitário esportivo Ocean SUV, e a baixa demanda dos consumidores.

Ao recorrer ao Chapter 11, no distrito de Delaware, a montadora informou que possui discussões avançadas com investidores para obter um financiamento na modalidade debtor in possession (DIP) e para a venda de ativos.

“Assim como outras companhias do setor dos veículos elétricos, enfrentamos vários obstáculos macroeconômicos e de mercado que afetaram a nossa capacidade de operar de forma eficiente”, diz trecho do comunicado da empresa.

A possibilidade de a Fisker entrar com um pedido de recuperação judicial vinha sendo aventada há alguns meses. Em março, o jornal The Wall Street Journal apurou que a montadora contratou a consultoria FTI Consulting e o escritório de advocacia Davis Polk para se preparar para uma possível recuperação judicial.

Um mês antes, a Fisker emitiu um comunicado informando sobre “dúvidas substanciais” a respeito de sua capacidade de permanecer operando. A companhia fechou 2023 com um prejuízo de US$ 762 milhões, um aumento de 39,2% em relação a 2022 e uma dívida superior a US$ 1 bilhão.

Mesmo com o Chapter 11 parecendo uma questão de tempo, as ações da Fisker recuvam fortemente na terça-feira, 18 de junho, após a empresa recorrer ao Chapter 11. Por volta das 10h45, os papéis caíam 47,7%, a US$ 0,02. No ano, eles acumulam queda de 97,6%.

Fundada em 2016 pelo ex-designer Henrik Fisker, responsável por modelos icônicos da BMW e da Aston Martin, a Fisker buscou se diferenciar da concorrência e reduzir custos terceirizando a produção de seus veículos.

A empresa abriu capital em 2020, por meio de uma Special Purpose Acquisition Company (Spac), levantando cerca de US$ 1 bilhão, sob uma avaliação de US$ 2,9 bilhões, para financiar as operações.

No entanto, logo na partida, a empresa teve dificuldades em levar os veículos produzidos na fábrica terceirizada, localizada na Áustria, aos Estados Unidos. A Fisker também teve de lidar com atrasos em aprovações regulatórias, problemas com peças para o Ocean SUV e a saída de diversos executivos da alta cúpula.

A derrocada da Fisker também foi impulsionada pelo momento ruim para o mercado de carros elétricos, com estagnação da demanda e a pressão competitiva, com a chegada de diversas montadoras resultando numa guerra de preços no setor. Foi neste cenário que a Fisker começou a entregar as primeiras unidades do Ocean SUV.

A Fisker não foi a única entre os novos nomes do mercado de carros elétricos que teve de recorrer ao Chapter 11. Em junho do ano passado, a fabricante de pickups elétricas Lordstown Motors entrou com pedido de proteção contra falência. O mesmo ocorreu com a britânica Arrival, que recorreu a mecanismo parecido no Reino Unido no começo do ano.

Outras companhias estão recorrendo a cortes de custos e paralisação de investimentos para tentar conservar caixa. Um levantamento feito pelo WSJ em dezembro de 2023 mostrou que ao menos 18 startups do setor de carros elétricos que abriram capital entre 2020 e 2023 correm o risco de ficar sem dinheiro até o fim deste ano. Das 43 empresas que realizaram IPO no período, cinco faliram ou foram adquiridas.

A recuperação judicial da Fisker é o segundo colapso de uma montadora fundada por Henrik Fisker. Sua primeira companhia, a Fisker Automotive (mesmo idêntico ao da atual companhia), seguiu pelo mesmo caminho em 2013.