As duas guinadas de Bill Ackman para impulsionar seu fundo de hedge

As duas guinadas de Bill Ackman para impulsionar seu fundo de hedge
As duas guinadas de Bill Ackman para impulsionar seu fundo de hedge

Considerado uma referência no mercado financeiro americano, o investidor Bill Ackman era um dos palestrantes mais aguardados na terça-feira, 6 de fevereiro, para falar no CEO Conference Brasil 2024, promovido pelo BTG Pactual.

O fundador do Pershing Square Capital Management, fundo de hedge que gerencia US$ 18 bilhões em investimentos, não decepcionou.

Previu que o Federal Reserve, o banco central dos Estados Unidos, deverá começar a baixar os juros em março ou maio, disse não acreditar numa recuperação da economia chinesa, afirmou que o ex-presidente Donald Trump tem “70% de chance” de vencer Joe Biden na eleição de novembro, por causa da idade do atual presidente americano, e advertiu que os EUA precisam de “lideranças melhores”.

Ackman, porém, cativou a plateia ao descrever as duas guinadas que deu em seus negócios, citando o investidor Warren Buffett como inspiração na primeira vez e, mais recentemente, na sua leitura correta quando a pandemia da Covid estava começando.

“Em vez das apostas assimétricas que muitos fundos costumam adotar ao fazer investimentos, criamos o critério de’apostas probabilísticas assimétricas’, baseadas numa estratégia centralizada da Pershing”, afirma o investidor.

A diferença, segundo ele, está na forma como gerencia sua equipe. Enquanto outros fundos de hedge remuneram o funcionário pelo resultado com um produto ou ativo, e o responsabiliza se esse resultado for decepcionante, Ackman afirma que a Pershing tem uma tolerância ao risco maior.

“Todo êxito é compartilhado e todo fracasso é meu. Isso cria um ambiente para todos se expressarem, num espaço que combina trabalho em equipe e incentivos adequados, uma vez que todos são sócios e adotam a mentalidade de que não é só alocar capital, mas tornar a empresa um negócio mais valioso”, diz.

Segundo ele, essa estratégia funciona pelo fato de as decisões serem mais concentradas num núcleo. “Temos US$ 18 bilhões de capital e oito profissionais de investimento, numa equipe total de 40 pessoas”, revela. “As pessoas só saem se forem abrir sua própria empresa. Os resultados estimulam a ficarem aqui.”

“Escrito na pedra”

Ao descrever a trajetória da Pershing, Ackman citou a lição aprendida de Buffett, quando o lendário investidor decidiu, em 1969, fazer a transição da gestão de um fundo de hedge, chamado Buffett Partnership, que vinha obtendo bons retornos, para a gestão de uma obscura empresa de capital aberto do setor têxtil chamada Berkshire Hathaway – que viria a se tornar uma holding que atua em vários setores, com 60 empresas sob sua direção.

De acordo com Ackman, o mérito de Buffett foi perceber a vantagem competitiva de fazer a migração. Segundo ele, nos primeiros 12 anos, a Pershing — fundada em 2002 — tinha resultados de 21% ao ano. Depois, em dois anos, caiu 15%. “Foi o momento de rendição da empresa”, conta.

Ackman revela que a empresa tinha capital e crescido de forma significativa. Mas seu líder acabou dedicando muito tempo com investidores, o que o levou a cometer um erro de investimento e ver muita gente apostando contra a Pershing.

“Disse que nunca mais iríamos entrar vendidos numa operação e a lição aprendida foi pegar os princípios de investimentos que consideramos corretos, gravá-los numa pedra, e botar na mesa de todos – não era uma pedra, mas pesava alguns quilos”, conta, rindo.

Segundo ele, desde então, o foco mudou. Ackman disse que passou a viajar menos, para se dedicar mais aos investimentos, deixando de replicar as apostas assimétricas que os fundos convencionais de hedge costumam fazer.

A primeira oportunidade veio com a Covid. Ackman disse ter notado que o lockdown seria inevitável e a aposta mais segura era que todos iam abrir linhas de crédito.

“A beleza de uma estratégia como essa é que os títulos do tesouro são esmagados e os hedge funds se tornam valiosos”, conta. A premissa que o mundo pós-covid é complexo e volátil estimulou sua empresa a ser mais arrojada.

“Agora sistematizamos isso: todo dia buscamos coisas interessantes, de moedas a commodities, passando por a taxas de spread de crédito”, conta, acrescentando que só entra num negócio quando faz sentido.

“Os fundos sempre acham que precisam fazer a mesma coisa sempre, só fazemos quando há possibilidade concreta de um retorno de 10 para 1, pelo menos”, diz referindo-se ao termo “apostas probabilísticas assimétricas”.

Segundo ele, a combinação de estar numa posição short e nesses eventos investir em negócios que conseguem tolerar situações adversas está dando certo. “Os resultados mostram isso.”