Além do Mês do Orgulho: como promover a verdadeira inclusão LGBTQIAPN+ no mercado de trabalho
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Por Jota Erre, Diretor de Relacionamento Comercial da Livelo
No mundo corporativo atual, existe um movimento importante impulsionado pelas empresas para que o tema de diversidade e inclusão mude do discurso aceitável e se torne um pilar essencial para a construção de um ambiente saudável, inovador, diverso e produtivo.
Como membro da comunidade LGBTQIAPN+ e com mais de 37 anos de experiência no mercado financeiro e de fidelidade, acompanho e vivencio uma transformação gradual e constante no ambiente de trabalho, que fica ainda mais evidente ao saber que 47% dos trabalhadores brasileiros se sentem confortáveis em assumir sua orientação sexual para seus colegas de trabalho, segundo a pesquisa LGBT+ @ Work 2023, realizada pela Deloitte, empresa de auditoria e consultoria.
Entusiasmado, me deparo com a real possibilidade de construirmos um futuro mais justo para a nova geração. No entanto, é urgente enfrentarmos algumas posturas e eliminarmos o preconceito dos corredores organizacionais.
A importância da inclusão
Diversidade não está relacionada apenas a questões de justiça e equidade social, mas também como uma forma de contar com pessoas que trazem outro ponto de vista e vivências para inúmeras situações. Contar com uma equipe diversa, como a da Livelo, em que 15,1% dos funcionários se autodeclaram com orientação sexual não heterossexual e 1,1% se autodeclaram transgênero, faz com que coexista um enriquecimento na tomada de decisões a partir de diferentes visões. Para efeitos de comparação, quando falamos da população brasileira, esses mesmos dados são de 12% e 2%, respectivamente.
Acredito que a representatividade de líderes da comunidade pode inspirar outros colaboradores a abraçarem a sua autenticidade e aspirarem cargos de gestão, além de promover acolhimento, autoestima e aceitação. Compartilhar histórias e vivências ajuda na construção do sentimento de pertencimento e, consequentemente, na produtividade e inovação no ambiente corporativo.
Outra diferença notada ao prezar pela diversidade e inclusão nas empresas é o engajamento no processo de letramento em relação a temática. Por aqui, desde 2020 contamos com a squad LGBTQIAPN+, grupo dedicado para trabalhar ações como o treinamento e capacitação de lideranças, conexão e trocas com nossos clientes e parceiros, uso assertivo de referências e linguagem nas ações de comunicação e melhoria de processos internos, como a possibilidade de uso do nome social quando fizerem o cadastro no site da Livelo.
Ações como essa nos fizeram atingir espaços importantes em premiações de destaque sobre o tema. A Livelo ficou em 3° lugar na categoria LGBTQIAPN+ no prêmio GPTW (Great Place to Work) e ganhou o certificado de “Melhores Empresas Para Pessoas LGBTQIA+ Trabalharem” na pesquisa HRC (Human Rights Campaign).
Infelizmente, mesmo com tudo isso, noto que algumas companhias seguem deixando o preconceito ganhar protagonismo nos corredores, nas pautas internas e nas relações com seus colaboradores e parceiros. De acordo com levantamento da To.gather, plataforma que monitora a diversidade das empresas no Brasil, apenas 4,5% dos trabalhadores são LGBTQIAPN+.
Os desafios ainda são muitos
Apesar dos avanços obtidos e de uma pauta recorrente com porta-vozes importantes, muitos desafios como discriminação, preconceito, falta de oportunidades e visibilidades, ainda precisam ser substituídos por inclusão e respeito para um real cenário de diversidade.
Para mudar essa realidade, é preciso que as empresas e as lideranças tomem atitudes para além do discurso, ou seja, que adotem estratégias abrangentes e contínuas, enxergando os potenciais independente da orientação sexual e seus estereótipos. Um jeito de colocar isso em prática é com a criação de metas e objetivos para aumentar a representatividade, trabalhando com vagas afirmativas, se necessário, para levar pessoas de diversos recortes sociais a cargos estratégicos ou ajudar os colaboradores no início da carreira profissional.
No entanto, apenas abrir as portas e firmar parcerias com ONGs e Associações não é o suficiente, visto que 52% dos LGBTQIAPN+ já sofreram discriminação no trabalho, segundo levantamento da Catho. No meu caso, foram incontáveis situações em que fui exposto a comentários homofóbicos, na sua maioria verbalizados por líderes, que usavam o poder de seus cargos e sua evidente imunidade para atingir minha competência técnica e desqualificar meu ponto de vista. Por isso, é fundamental fornecer uma cultura organizacional verdadeiramente inclusiva, que preza por segurança psicológica e gestão positiva, com ações educacionais e consequências mais efetivas quando o assédio se manifesta.
Como líder, ouço opiniões diferentes, compartilho minhas experiências e sempre busco me capacitar como forma de incentivar um ambiente de trabalho cada vez mais plural e respeitoso.
O futuro é nosso
Levando isso tudo em consideração, o Mês do Orgulho, celebrado mundialmente em junho, é uma ótima – mas não a única – oportunidade para refletir sobre os avanços obtidos e identificar áreas em que ainda há trabalho para ser feito. Também é um convite para refletirmos sobre nossas posturas e necessidade de letramento, inspirando equipes e parceiros para a busca de um ambiente de convivência, no mínimo, respeitoso.
Milito para que mais pessoas como eu tenham a oportunidade de prosperar no ambiente de trabalho, sem ter que lidar com tantas dores e desafios, sendo elas mesmas e sem precisar se esconder atrás de rótulos que não lhe pertencem.
Com isso, não reserve a inclusão e a diversidade para um único mês, faça dela um compromisso contínuo e diário.
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