Esther Duflo: mitigação das mudanças climáticas avançará com a redução das desigualdades
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Taxação de impostos de bilionários, pagamentos de tributos por parte das empresas a partir das emissões de gases causadores do efeito estufa e transferência de renda dos países mais ricos para os mais pobres. Estas são as ideias defendidas por Esther Duflo, Nobel de Economia de 2019, que palestrou na manhã desta quarta-feira, 26, no Sesc 14 Bis, em São Paulo.
Na apresentação “Adaptação climática, justiça climática“, a economista apresentou uma série de ideias e dados que justificam a necessidade de mudanças nos planos de mitigação e danos dos riscos causados às populações mais vulneráveis devido às mudanças do clima.
“Há uma dívida moral, dos países de Primeiro Mundo, que obriga as pessoas de países em desenvolvimento a sofrerem os efeitos do aquecimento global. No Brasil, por exemplo, este é um problema de agora, como vocês viram com as inundações no Rio Grande do Sul, ou a morte de uma jovem durante o show da cantora Taylor Swift no dia em que o Rio de Janeiro registrava sensação térmica de 60 graus”, disse.
Para ela, é importante contextualizar que há as emissões dos territórios nos quais há grandes indústrias, como China, mas também nos grandes consumidores, como Europa. “Isto significa que a pegada de carbono de uma pessoa muda em razão da sua renda, visto que os maiores emissores são aqueles com maior renda e consumo”.
Para ter ideia, uma pessoa nos Estados Unidos, que está na faixa superior de renda, é responsável por 122 vezes mais emissões do que uma pessoa que está na faixa de renda mais baixa, na África. Na prática, os 10% mais ricos do planeta são os maiores emissores e responsáveis por 50% das emissões globais. “Ou seja, não é preciso escolher entre trabalhar a redução das desigualdades ou a mitigação das mudanças climáticas. As pautas precisam andar juntas.”
A questão racial também está relacionada com a pauta das mudanças climáticas, uma vez que a maior parte das pessoas com menor renda no país é preta e parda. Em Guaratiba — bairro do Rio de Janeiro onde 40% das pessoas são brancas — registrava sensação térmica de 58,5 graus Celsius, no bairro Jardim Botânico — onde 80% são brancos — a sensação era de 45 graus Celsius. “Até 2100 teremos o aumento da temperatura e da quantidade de dias quentes, mas as mudanças não serão sentidas da mesma forma por toda a população”, diz Duflo.
Como mudar o cenário de desigualdade em relação às mudanças climáticas
Para a economista, é preciso que especialistas e governantes olhem para as mudanças climáticas como uma crise tão urgente como foi a da covid-19. “É preciso considerar, por exemplo, a estimativa de valor da vida humana. Neste sentido, hoje podemos dizer que a emissão de 1 tonelada de CO2 equivale ao custo social de US$ 37 na vida humana, considerando doenças e mortes prematuras”. Os Estados Unidos e a Europa emitem 14 bilhões de toneladas de CO2 ao ano, isto é o equivalente a US$ 518 bilhões em vidas humanas.
Apesar da iniciativa da 21ª Conferência das Partes (COP21) para a criação de mecanismos de perdas e danos, como aponta Duflo, seriam precisos US$ 500 bilhões destinados dos países ricos para os mais pobres todos os anos, mas isto não acontece. “E, quando acontece, é sob condições, como foi no Equador, que recebeu uma verba da França, mas para uma construção que usou, por exemplo, equipamentos franceses”.
Assim, a economista aponta que é preciso avançar em questões politicamente difíceis, como a definição de taxas pagas pela emissão de gases causadores do efeito estufa ou ainda por riqueza. “Impostos sobre empresas poderiam gerar US$ 300 bilhões ao ano. Já os impostos para os 3 mil maiores bilionários do mundo poderiam gerar US$ 250 bilhões destinados à causas socioambientais.”