Ela largou o CLT para empreender e agora leva mulheres para estudar liderança nos EUA
Criar líderes com propósito não é apenas um desafio das companhias, mas também de Tati Marzullo, que largou a carreira de CLT para apostar no seu próprio negócio. Nascida e criada no Rio de Janeiro, Marzullo é filha de empreendedores, e assim que saiu da escola decidiu apostar na carreira de jornalista, profissão que a levou inicialmente ao universo da carteira assinada. “Meu sonho era trabalhar em rádio, mas precisei vivenciar essa carreira para saber que não era isso que eu queria”, diz a executiva.
O trabalho como CLT perdurou por alguns anos na área de comunicação de empresas e pessoas, mas aos 27 anos ela tomou a decisão que mudou a sua trajetória profissional: com o dinheiro da rescisão, em 2007, Marzullo fundou da sua casa a “Agência A+”.
O negócio foi crescendo progressivamente, ganhou um grande espaço em um prédio na Barra da Tijuca, a equipe cresceu – assim como a vontade de chegar mais longe e de internacionalizar a companhia.
Atualmente, a executiva oferece, além do serviço tradicional de comunicação, programas de imersão para executivos nos EUA, como o “Salto Alto”, que treina mulheres com líderes de grandes empresas americanas.
A ida para os EUA
Em 2014, por meio de um curso no Disney Institute, os planos de Marzullo ganharam novas proporções. “Esse curso foi um divisor de águas, me ajudou a solidificar a missão, visão e valores não só de empresas, mas também da minha vida”, diz. “Voltei querendo ser uma líder muito melhor na agência e foi neste momento que tive a ideia de ajudar executivos brasileiros a fazerem novas conexões com profissionais de fora do país”.
Com a agência ainda no Brasil, a empresária fez em 2017 a primeira excursão para os EUA com a Associação de Supermercados do Estado do Rio de Janeiro. “Levamos 60 donos de supermercados para um curso de excelência em Orlando e lá eles puderam se conectar com executivos de supermercados americanos, aprendendo muito sobre excelência de atendimento, que é algo que os americanos são muito bons”, diz Marzullo.
A segunda viagem de imersão não demorou para acontecer e a agência levou um CEO de uma farmacêutica em programa internacional para 26 executivos. “Senti que ali eu encontrei o nosso negócio nos EUA e, junto com o meu marido, que também é investidor, começamos a pensar em como ingressar neste mercado”.
Com a chegada da pandemia em 2020 e da segunda filha, os planos da executiva de investir nos EUA tiveram que esperar por um tempo – o que foi um intervalo ideal para ela se preparar para esse novo salto.
“Com a pandemia vimos que o negócio funcionava muito bem com o home office. Foi então que tiramos do papel o sonho de levar a empresa para fora do país e demos a entrada no visto americano em 2021, com o objetivo de levar vários executivos para os EUA para aprender as melhores práticas com as empresas americanas”, diz Marzullo.
A importância dos relacionamentos para empreender nos EUA
O visto que a empresária brasileira conseguiu foi o EB2NW, visto de imigração para estrangeiros com habilidades excepcionais ou grau avançado em suas áreas de atuação. Com a pandemia, o processo jurídico durou cerca de um ano, e entre várias documentações, Marzullo precisou apresentar um plano de negócios, sobre a relevância da empresa para o mercado americano.
“Nele apresentamos um programa de treinamento de liderança que chamamos hoje de ‘Smart Leader’, para líderes de diferentes idades, gêneros e companhias, além de um programa especial focado em mulheres executivas.”
Para obter esse visto, além de apresentar um plano de negócio e comprovar condições financeiras, Marzullo precisou apresentar suas referências no mercado brasileiro, como cartas de todos os ex-chefes e comprovação da sua trajetória profissional.
“Esse processo de visto me mostrou o quanto é importante fazer um bom trabalho e prezar pelos bons relacionamentos. Todos os meus chefes me referenciaram, isso me ajudou a realizar esse sonho de internacionalizar a minha empresa”, diz a empresária.
A “Agência A+” começou a operar nos EUA em 2023. Marzullo se mudou com a família com o visto de residente permanente e recebeu o green card nos EUA após uma semana como residente. Em abril deste ano, o primeiro programa realizado direto dos EUA foi o programa especial de mulheres, conhecido por “Salto Alto” – o próximo já tem data marcada.
O “salto alto” que elas querem
O diferencial da agência nos EUA foi apostar em programas de imersões, mas ao invés de começar por programas fechados com empresas, o que seria mais prático, Marzullo decidiu apostar e começar pelas imersões femininas, trazendo o conhecimento que adquiriu no programa da Disney Institute em 2014.
O primeiro anúncio da edição do programa para mulheres tinha como chamada “a primeira imersão exclusiva de liderança para mulheres na Disney, nos EUA”. O nome “Salto Alto” foi escolhido ainda na fase de divulgação, trazendo a personalidade e o propósito do programa de ajudar mulheres a darem um salto em suas carreiras, em suas empresas e nas suas vidas, por meio do autoconhecimento, de networking internacional e de treinamento de liderança.
“A ideia do programa é ajudar mulheres a crescerem em suas carreiras, vencendo crenças limitantes, sem ter aquela competição que ainda é muito comum no ambiente corporativo”, diz a fundadora do programa que recebe desde executivas CLT a empresárias que buscam propósito em seu trabalho.
A empresária Cristiane Krassuski, sócia e CFO da L/Dana, empresa de joias carioca fundada em 1993, foi uma das participantes da primeira turma do “Salto Alto” em abril. A imersão em Orlando foi o sexto programa internacional que ela já fez em sua trajetória.
“O conhecimento de fato é a arma mais poderosa que temos para transformar as nossas vidas, tanto que nos últimos dez anos, essa foi a sexta imersão que eu fiz fora do Brasil”, diz. “Nos outros programas aprendi muito com a teoria, mas com o ‘Salto Alto’ consegui colocar em prática o conhecimento adquirido. Percebi, por exemplo, que o grande vilão da minha liderança era não ter uma agenda clara e definida, com isso as minhas prioridades nunca eram executadas”.
Outra participante do programa foi a médica veterinária Alessandra Esteves. Concursada na Fiocruz desde 2012, a executiva também afirma que o programa representou uma virada de chave em sua forma de liderar.
“Sempre me preocupei bastante com as pessoas, mas achava que a chave para o sucesso da equipe era o foco em nossos processos. Após tudo o que vivenciei no programa, percebo que a chave para a eficiência e o sucesso de resultados é o foco no desenvolvimento da equipe. Devemos focar em desenvolver as pessoas, que, afinal, serão as responsáveis por conduzir os processos.”
Além da parceria com a Disney Institute, e da participação de psicólogos e coach, a agência faz conexões com empresas locais para ajudar nos treinamentos dessas líderes. Na edição de outubro deste ano, o programa “Salto Alto” irá visitar a Apple, Disney, Lego, Full Sail University, Whole Foods, Mall at Millenia e Gaylord Palms. O programa também pensa na diversidade, e por isso oferecerá tradução simultânea para as participantes que ainda não possuem o inglês fluente.
Os planos para o próximo salto
Com faturamento de 5 milhões de reais em 2023, e expectativa de aumento de 30% para 2024, a aposta da agência A+ é de criar um centro de conexões nos EUA. Ainda este ano, a companhia irá investir mais de 10 milhões de reais em uma casa de conteúdo, conexões e experiências em Orlando para receber executivos brasileiros, tanto os que moram nos EUA, quanto os que farão os programas de imersão.
“Para realizar esse investimento, teremos um incremento de 30% no faturamento de uma holding americana”, afirma a empresária.
Sobre o programa “Salto Alto”, que terá a próxima edição em outubro, em Orlando, Marluzzo adianta que planeja expandir o treinamento para outras datas e cidades dos EUA, com Nova York, no próximo ano. “Além desse programa de imersão para mulheres, já estamos prevendo um programa para executivos onde homens também poderão participar e aprender sobre negócios, networking, propósito e liderança”, diz a empresária que ouviu um dia de um líder uma frase sobre liderança que a marcou até hoje.
“Um dia eu ouvi que era preciso eu ser líder do meu metro quadrado. Liderança não é só sobre gestão de pessoas, diz respeito também a ser um líder em sua vida, ter coerência e propósito com o que você fala e faz”.
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