O dólar hoje deu um alívio após o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, falar sobre um possível corte de gastos do governo com redução de privilégios e supersalários da máquina pública. Às 15h40 desta quinta-feira (13), a moeda norte-americana recuava 0,65% em relação ao real, a R$ 5,37. O dólar chegou a bater na quarta-feira (12) nos R$ 5, 43, fechando um pouco abaixo deste patamar, em R$ 5,40.
Segundo Cristiane Quartaroli, economista do Ouribank, as falas do ministro trazem um certo alívio para o mercado. “Ontem, o mercado chegou a questionar a permanência ou não do ministro. Se isso acontecerá ou não, nós não sabemos, mas traz um alívio momentâneo em relação ao quadro fiscal”, diz.
Atualmente, o Brasil está com dificuldade para aumentar sua arrecadação federal e seguir com os planos de zerar o déficit fiscal em 2025. O governo federal está pressionado e não encontra apoio no Congresso para resolver as questões fiscais via aumento da arrecadação. O efeito do problema obriga o governo a reduzir gastos. A situação reflete negativamente no mercado financeiro do País e deixa no ar um clima de cautela.
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Na noite da terça-feira (11), o Senado Federal devolveu a Medida Provisória (MP) que restringia a compensação de créditos do PIS/Cofins em contrapartida à perda de arrecadação com a desoneração da folha de pagamentos, uma medida com capacidade de render R$ 29,2 bilhões para a Receita Federal.
Para piorar a situação, o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, disse que o governo está colocando as contas públicas em ordem para assegurar o equilíbrio fiscal e que não consegue discutir economia sem colocar a questão social na ordem do dia. “O aumento da arrecadação e a queda da taxa de juros permitirão a redução do déficit sem comprometer a capacidade do investimento público”, disse Lula.
Na visão de Felipe Corleta, sócio da GTF Capital, essas tensões geraram fortes preocupações no mercado nos últimos dias, que fizeram o dólar disparar. “Isso poluiu o mercado, ontem mesmo, os dados da economia americana mostraram que a inflação do país está desacelerando, o que causou uma desvalorização do dólar ao redor do mundo por expectativas do corte de juros nos EUA. No entanto, a moeda americana disparou ontem por aqui em razão dessas tensões. Por isso, a fala de hoje do Haddad acalmou o mercado”, aponta.
Em entrevista coletiva nesta quinta-feira, Haddad disse que o governo está disposto a rever o gasto primário cortando privilégios e que, para isso, vários temas foram debatidos. “Estamos discutindo questões como supersalários, correção de benefícios que estão sendo praticados ao arrepio da lei e melhoria dos cadastros”, disse o ministro.
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Para Pedro Lang, economista e sócio da Valor Investimentos, esse alívio se mostra até mais forte que a pressão global, visto que nesta quinta-feira o dólar sobe em relação às moedas desenvolvidas no mundo. Às 15h17 do horário de Brasília, o DXY –índice que compara o dólar com uma cesta de moedas concorrentes – subia 0.54%, a 105.213 pontos. O analista lembra que dólar opera no Brasil na contramão do mundo justamente pela alta ocorrida na quarta-feira, o que fez a moeda precisar de correção hoje.
Como o dólar deve se comportar ao longo do ano?
Segundo Felipe Corleta, da GTF Capital, o dólar pode voltar para o patamar de R$ 5,20 caso o governo consiga conciliar algum corte de gastos. “No entanto, isso precisa ser muito bem definido. Caso nada mude e as questões fiscais não se resolvam, a moeda pode continuar em tendência de alta. Isso, pelo menos, é o que mostra os dados técnicos”, salienta Corleta.
Já Cristiane Quartaroli, do Ouribank, reforça que a moeda pode ter um alívio caso o Federal Reserve (Fed, o banco central dos EUA) aumente o número de cortes de juros. Atualmente, o mercado espera um ou, no máximo, dois cortes das taxas americanas até o fim de 2024. No início do ano, o mercado esperava que Fed começaria a reduzir juros em março e por isso precificava um dólar mais baixo.
“O mercado acredita hoje que tenham poucas quedas por lá. Todavia, se o Fed conseguir começar a reduzir os juros antes, isso pode trazer um alívio para o câmbio e reduzir o valor do dólar ante o real. Mesmo assim, fica difícil cravar um número para o dólar até o fim de 2024. Hoje o cenário é muito incerto”, aponta a analista.
Cotação em disparada
O dólar vem em uma trajetória de alta há algum tempo, um movimento que se acentuou nos últimos pregões. Segundo dados levantados por Einar Rivero, sócio-fundador da Elos Ayta Consultoria, o real até o fechamento do mercado desta quarta-feira (12) tinha a terceira maior desvalorização frente à moeda americana no ano. O dólar acumula uma alta de 11,38% no ano em relação à divisa brasileira. Apenas o peso da Argentina e o iene do Japão têm desvalorizações maiores em 2024.
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Como mostramos nesta reportagem, o movimento de valorização no ano reflete o comportamento dos investidores em busca de proteção em meio às dúvidas sobre o início do corte de juros nos Estados Unidos, mas nas últimas semanas o risco fiscal no ambiente doméstico ajudou a impulsionar ainda mais a alta.
Aos poucos, o mercado deixa de acreditar que o câmbio encerre o ano na casa dos R$ 5, como previa inicialmente o Boletim Focus na virada de 2023 para 2024. A edição mais recente, publicada nesta segunda-feira (10), traz uma projeção de R$ 5,05 para o fim do ano, mas há quem esteja ainda mais pessimista. O Itaú BBA, por exemplo, revisou suas expectativas e agora espera que o dólar esteja em R$ 5,15 em dezembro.
Para Alexandre Viotto, head de banking e câmbio da EQI Investimentos, essa previsão é otimista. “Bater R$ 5,50 é muito mais fácil do que voltar para R$ 4,80,e a moeda deve chegar nesse patamar no curto prazo”, diz.
Onde investir para lucrar com a alta do dólar?
Para quem quiser aproveitar a tendência de alta, os analistas recomendam investir em ativos em dólar em vez de comprar a própria moeda. Isso porque o investidor tende a pagar taxas maiores na compra do dólar físico. “É preferível optar por produtos de investimento já em dólar com uma conta internacional em uma corretora do Brasil. Assim, o investidor fica sujeito às oscilações apenas do mercado norte-americano, tirando as oscilações brasileiras do horizonte”, explica Paloma Lopes, economista da Valor Investimentos.
Uma das formas de investir em dólar sem comprar a moeda diretamente acontece via contratos futuros de dólar na B3, a Bolsa de Valores brasileira, por meio de duas categorias: contratos cheios de dólar (DOL) e os minicontratos de dólar (WDO). “Os contratos cheios são para quem deseja movimentar grandes quantias, pois eles correspondem a uma movimentação de US$ 50 mil por unidade. O mini contrato é indicado para quem vai operar valores menores, pois cada minicontrato vale US$ 10 mil”, diz Lopes. Ela explica também que o contrato de US$ 10 mil não tem mínimo para operar, enquanto o de US$ 50 mil tem o mínimo de 5 contratos, equivalente a US$ 250 mil.
Em função do valor elevado, os especializadas consultados pelo E-Investidor comentam que essa modalidade serve para quem tem um maior poder de barganha para investir, visto que em real é necessário ter pelo menos R$ 50 mil para comprar um contrato, o que passa a ser complicado para investidores com um patrimônio não tão grande.
Na visão de João Piccioni, gestor de fundos da Empiricus Gestão, o dólar futuro não oferece uma boa alternativa para o investidor que não está acostumado à volatilidade do mercado futuro. “O contrato futuro prevê fluxos diários de entrada e saída de recursos e, portanto, deve ser monitorado de forma recorrente. É um produto voltado para investidores mais experientes ou que desejem fazer alguma operação de proteção de carteira”, explica o analista.
*Com informações do Broadcast